Jogagador incorporou como comentarista estilo “gozador” e repetiu a velha mentira, dita desde Barbosa, de que negros não podem jogar no gol
Jailson: grande homem e grande goleiro
Edilson é negro. Surgiu no Vitória, em uma geração anterior à de grandes jogadores negros, como Vampeta e Paulo Isidoro. E Dida, negro, um dos maiores goleiros da história do Brasil. Com ele e Vampeta, eles fizeram história no Corinthians dos anos 1990.
Como muitos outros jogadores, incorporou o estilo “gozador” – aquele que se abstém de analisar partidas para destilar preconceitos e piadas jocosas. Quase sempre não tem graça.
Enumere os atletas que, encerrada a carreira, partiram para essa técnica. Não vou citar os nomes. Poucos jogadores fizeram por merecer seu espaço com análises — nem sempre certeiras, mas quase sempre baseadas naquilo que veem, e não em preconceitos.
Convidado para participar da guerra verbal de todos os dias no Fox Sports na sexta-feira, deu a opinião que ninguém pediu ao analisar o bom goleiro Jaílson, do Palmeiras. “Tá vendo o que eu falei? Goleiro negão sempre toma gol.” Zinho riu, e seu colega de bancada Benjamin Back lembrou dos feitos do ex-colega de time do atacante: “O Dida era um goleirão, viu”. Edilson rebateu: “Não era negão, não. O Dida é pardozinho”.
Jailson está há 29 jogos sem perder uma perdida. Contra Ponte Preta, fez uma defesa difícil no fim da partida. No domingo ( dia18), à quarta maior série invicta de um goleiro palmeirense.
A reação de Edilson tem dois aspectos: primeiro o de não reconhecer o negro como negro. Ronaldo Fenômeno já se declarou branco, para quem não lembra. Segundo: Barbosa, morto e 68 anos depois da Copa de 1950, ainda sofre com o preconceito com a sua atuação na final contra o Uruguai. Virou uma “verdade”: a de que negros não podem jogar no gol.
Uma verdade que é uma tremenda mentira: Barbosa era o grande goleiro do Vasco no Esquadrão Imortal de 1945 a 1952 e sua atuação não foi a responsável pela derrota da seleção em 1950. Bigode também carregou culpas, mas não tanto quanto as de Barbosa.
Poderia enumerar outros grandes goleiros negros — Manga, Jairo, Jefferson, Aranha, Sidão, além do próprio Dida, entre outros — para mostrar que a fala de Edilson é apenas uma bobagem. Infelizmente, o comentário esportivo virou essa grande farra, em que informar é o que menos importa.
0 comentários:
Postar um comentário